sexta-feira, junho 29, 2007

Platão, marinheiros e a reflexão filosófica






Pequeno trecho da República de Platão :

"...marinheiros em dissensão uns com os outros a respeito de pilotagem, cada um julgando que é ele quem deve pilotar, embora jamais tenha aprendido essa arte nem seja capaz de apontar quem foi seu mestre nem quando a aprendeu, afirmando, além do mais, que ela não é coisa que possa ser ensinada e prontos a por em pedaços quem disser que ela pode ser ensinada...com a embriaguez ou com outro meio qualquer, comandam o navio, tomam posse da carga e, bebendo e banqueteando-se...vão navegando...Além disso, elogiam, tratam como marinheiro, como piloto e como conhecedor da arte náutica quem é capaz de contribuir para que obtenham o comando, seja persuadindo o dono do navio ou exercendo violência sobre ele, mas ao que não é capaz disso censuram como imprestável."

Platão - A República - Livro VI - pg 231

Dá o que pensar sobre a turba intelectual que assola este país...








Bento XVI e sua biografia de Jesus Cristo








Acaba de ser editada no Brasil a biografia de Jesus de Nazaré. Escrita pelo Papa Bento XVI, a publicação demorou a ser lançada em relação às edições internacionais por um motivo nobre: a tradução foi minuciosamente cotejada pelo Vaticano, para que não houvesse "reinterpretações" do texto original. Comecei a leitura ontem à noite, e posso afirmar que o livro é primoroso, tanto na sua erudição, quanto na capacidade que tem de nos apresentar Jesus Cristo em sua unicidade de Deus-homem.


Segundo as palavras do próprio autor, a interpretação da biografia só fará sentido ao relacionarmos o diálogo que ocorre entre Moisés e Deus no livro do Êxodo (33,18-23) com a revelação de que “Quem vê Jesus vê o Pai” (Jó 14,9). Toda palavra, ação, sofrimento e glória de Jesus devem ser analisadas sob a perspectiva desta relação.


O livro tem início com o batismo (há uma introdução à cristologia, onde Bento XVI retrocede de Jesus até Davi, chegando a Moisés e por fim Adão e, antes deste, Deus-Pai.), passando por cada etapa da história espiritual/carnal do Cristo, levando-nos até a Sua transfiguração. O autor ainda interpreta a Palavra do evangelho, tais como o Sermão da Montanha e a Oração do Senhor. Interpretações onde se descortina a profunda e pessoal unicidade de Deus com o Papa.

Há ainda um capítulo de suma importância no qual é discutido o evangelho de São João. Esta opção é motivada pela particularidade de ser aquele onde Jesus é claramente divinizado e seu discurso é carregado de simbologia; contrapondo-se aos outros evangelhos onde a parábola é o meio pelo qual Ele ensina. Outra motivação de Bento XVI ao pensar este evangelho de modo separado é a questão de sua autoria – “Quem é este João que estava ao pé da cruz, e que viu Seu corpo ser perfurado ?” . Por fim o mais dramático: a busca histórica para que não se deixe cair a fé em uma realidade desencarnada, isto é – gnóstica. É através da recordação pessoal e da realidade histórica relacionados um com o outro que o autor reafirma o factum historicum do evangelho de São João.

Enfim, o livro, como outros escritos do Papa, é de uma pedagogia, de uma limpidez e clareza teológica impressionante e por isso é convidativo para nossa própria reflexão sobre a vida e relacionamento que temos com Jesus Cristo.


Apenas um adendo : lendo o livro de Bento XVI, recordei-me de um outro excelente livro sobre Jesus, - História Natural de Jesus de Nazaré - de Herberto Salles (Editora Topbooks), onde o autor nos revela sua fé no Cristo homem e de como na concretização de sua plena humanidade se faz D
eus.

quarta-feira, junho 27, 2007

La Muerte no es el final

Cuando la pena nos alcanza,del compañero perdido.
Cuando el adiós dolorido,busca en la fe su esperanza.
En tu palabra confiamos
con la certeza que Tú ya le has devuelto a la vida,
ya le has llevado a la luz.
Ya le has devuelto a la vida,
ya le has llevado a la luz.

Canção espanhola - Homenagem a Bruno Tolentino

Travessia

por BRUNO TOLENTINO

Acabei encarando a desmedida;
Medi minha coragem e meu cansaço
E não lhes dei ouvidos, dei partida.
Disse-me:
"Vai, ou não terás espaço
Para um só verso, vai!".
E foi assim
Que eu "fui", como amparado pelo braço
De alguém – ou algo – tão igual a mim
Que talvez fosse eu mesmo.

[in O Mundo Como Idéia]

Bruno Tolentino


Silêncio.
Morreu Bruno Tolentino.