"Well, i'm a fast talking, hell raising, son of a bitch and i'm a sinner and i know how to fight well, i can leave you if i wanna, little baby and i'm gonna tonight. cause i got a bucket full of tears and a hard luck story there's a bad moon rising behind!" Whiskeytown
sexta-feira, março 21, 2008
There Will Be Blood
There Will Be Blood
O último filme de Paul Thomas Anderson é soberbo. Um resgate da tradição maior do cinema americano. “Cidadão Kane”, “Assim caminha a humanidade”, “Meu ódio será tua herança”, todo grande filme americano e suas sagas, tragédias, conflitos e violência está lá, pulsando em cada cena, borbulhando como o petróleo que move e suja as mãos de Daniel Day-Lewis e a câmera de Paul Thomas Anderson.
É um filme que mostra o quão grandioso é o drama humano, este drama que nos consome e impulsiona para perto ou longe de Deus. Pois eis o nosso drama, saber que as nossas ambições e conquistas, falhas e perdas, família e solidão estão o tempo todo sob os olhos de Deus, sob Sua sombra e sangue. E não ter esta certeza, não ter esta força de nosso lado nos torna vazios, brutos e cruéis.
O drama de Daniel Plainview é conquistar tudo o que queria e este tudo se resumir a uma mansão, tão lúgubre quanto os buracos em que se enfiou a vida toda. Um lugar isolado de onde pudesse continuar a odiar toda a humanidade. E para conquistar isso ele empurra todo o seu amor, toda sua dignidade para o abismo negro. Sim, havia amor em seu coração: no trato com seu filho, no cuidado para com a pequena Mary, nas lágrimas de solidão que derrama ao encontrar uma foto no diário roubado de seu verdadeiro irmão. Por trás das atitudes gananciosas e violentas há momentos de ternura e até culpa sincera.
E está culpa aparece no momento crucial do filme, quando, movido por objetivos práticos, conseguir terras para escoar seu petróleo, ele é levado a Igreja que de certa forma ajudou a construir, e aí, obrigado a confessar seus pecados e pedir perdão à Deus. E mesmo com seu desconforto e descrença, percebe-se o tormento que foi para ele assumir a dor que foi afastar-se de seu filho. O quanto aquilo o agrediu e machucou. Mas ele assume sua culpa diante de Deus e do pastor da Igreja. E nós sabemos que mesmo não acreditando naquilo, Daniel de alguma forma em seu peito espera o perdão.
Ao reencontrar o filho, este o estapeia, mostra o quão dolorido foi para ele também.
E é em sua mansão, em seu palacete de escuridão que eles voltam a se encontrar face a face. Então, nada mais os une. São dois homens agora. Mesmo que haja a tentativa se se preservar o pai, este não aceita a rebeldia do filho, que nada mais quer do que seguir o seu caminho, conquistar os seus sonhos, construir com as próprias mãos o seu destino. Mas isto é demais para um velho solitário, isto torna aquele por quem nutria carinho em apenas mais um concorrente, mais um inimigo. Pior, isto o torna orfão.
De quem é a culpa então?
Daniel Plainview é destes personagens cheios de amargura e solidão que transforma estes sentimentos em ódio à Deus. E abandonado em sua casa ele tem a visita do pastor Eli, e a chance de se vingar de Deus. E como ele faz isso? Falido, o pastor Eli vê em Plainview a oportunidade de reerguer-se financeiramente às custas de Plainview, este irá ajudá-lo se o pastor assumir que não é um profeta e mais, que Deus não existe. Ele exige do pastor simplesmente a apostasia em troca do dinheiro. Não sendo nada mais que um homem, tão mesquinho e ganancioso quanto qualquer outro o pastor Eli clama em altos brados sua renúncia.
Então Daniel Plainview tem afinal sua “vitória”, ele tem a certeza de que tudo o que fez para se aproximar de Deus era falso, uma mentira tão cruel e sedenta por poder quanto ele. Ele mata o pastor Eli de forma brutal afirmando assim seu implacável julgamento. Deus não é nada. Abandonado, com apenas ódio e rancor em seu peito, ele terminará sua vida atolado no lodo de sua conquista.
Esta saga é conduzida de forma magistral por PTA, que não torna a vida fácil para o espectador médio de cinema, seja na trilha sonora, seja no tempo do filme ou na escuridão que atormenta os olhos. Para os apaixonados por cinema, um deleite.
Mais que um clássico, uma obra-prima.
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