sábado, dezembro 03, 2005

Sozinha

Se a noite é doída
e não posso te ter
e o que resta é o que se foi
Vejo-me ferida
não posso mais ser.

Quero sempre acordar
te ver acreditar
te implorar, te pedir
não nos deixe ruir.

Mas quando vem a madrugada
só seu corpo retesado
e apenas seu beijo seco,
cadê você que não está ao meu lado ?

Os restos de seu dia cinzento
as dores de seus sofrimentos
despeja, deságua, derrama-se em mim.
E nada mais resta de nós.

Canção

Você que é todo silêncio
aonde vai com todo esse medo ?
Vem cá, repousa meu nego
Que sou, senão seu refúgio ?

Mas você foge de tudo
e se esconde de tudo
Essa amargura que o devora
já engoliu parte de nós.

Não deixa, não
refaz nosso mundo
refaz nosso mundo
sou eu que implora
pelo que resta de nós.

Durante a noite que chora.

Ontem

Hoje já não sabia quem eu era
Hoje vi você com seu amor antigo
Abri no peito uma cratera
e me chamei, maldito.

E pensar que a noite era nossa.
Ter visto o sol nascer tímido
Ter acariciado seu rosto na manhã silenciosa
e acreditado que nada era fingido.

E agora não te tenho mais
agora não tem mais ninguém
só me resta o ontem
pra me levar de volta a você.


sexta-feira, dezembro 02, 2005

Estranhos em uma noite qualquer.

É engraçada essa vida de encontros,
Já não basta o vinho de Baco
a nos deixar meio tontos,
tem teu olhar que me torna fraco.

Essa boca que seduz,
me corta ao meio, lança tormentos,
não sabe onde vais e me conduz.
E inebriados de sentidos, perdemos

O medo do estranhamento.
Nossa pele se reconhece
no suave, ébrio acolhimento

De um quarto ainda teu somente.
Na cama não minha, tece
um momento nosso, intermitente.

Perda

Perdi sem querer um poema
e ele era assim
tão cheio de si. Tão gracioso
quanto um canto de ema.

Mas não tem nada, não.
Dá pra encontrar lá no fim,
Depois de todo tempo ocioso.
É como o abraço de um irmão.

A gente se perde na vida,
sai por aí, bêbado, fazendo besteira
heresias até, perde a rabeira.

E quando menos espera,
com a alma meio que traída,
vem o aconchego da fé amiga.


Dia e Noite

Quando olhei para o mundo hoje,
meu olhar não era bom.
Mas Ele ainda era,
disso eu sei.

Um mendigo se lavava com água da sarjeta,
uma menina que observava o nada,
em sua quietude a doce dor da loucura.

O sol brilhou forte à uma da tarde
A hora em que me perdi.
E à noite a lua estava encoberta
por nuvens pesadas e cinzas.

Um sapo na calçada, quem diria /
Alguém que perdeu o último ônibus
tragando a fumaça de um cigarro.

E eu só queria poder dormir,
talvez deixar passar o tempo
sem sentir assim, sabe, tanto medo
tanto nada
tanto abandono.

O Vazio

Apenas sentado na cama
e não, não quero me machucar
não hoje, obrigado por perguntar.

Bom, talvez eu chore um dia desses
apenas para sentir as lágrimas correrem
pelo meu rosto como labaredas a brilhar,

Iluminando nas noites geladas.
Mas não hoje, hoje é apenas silêncio
e o gosto perdido do seu beijo.

Quem sou ? Quem somos ? O que fomos ?
Onde foram parar aquelas doces ilusões ?
Como pôde aquele mar todo secar ?

Enrolado em um edredon puído,
Escondido dentro deste casulo envelhecido,
Apenas o vazio no olhar.
Vazio que só você preenchia.

Talvez um dia, não hoje.

Agora que você não está aqui
posso acender um cigarro na penumbra da lua,
e deixar de acreditar em nossas filhas,
que um dia sonhamos ver crescer.

Já é tarde, todo dia agora é madrugada,
um cinzeiro cheio do que foi nosso amor.
Você não é mais minha, eu não sou mais seu.

São pequenas mortes essas, que surgem
quando algo bom termina.
Ressuscitar, renascer ? talvez um dia, mas não hoje.
Hoje é apenas se cobrir com este cobertor

Que já não tem seu cheiro, que agora
é frio como o vidro da janela
por onde trespassa essa penumbra lunar.

Dias e dias

Um guarda-sol branco e vermelho a nos proteger,
Noite dessas te avisei que ia chover.
Mas neste dia, os pés na areia a se esconder,
Enquanto o mar brilhava em desmanchado entardecer.

E quem diria que tua boca não era minha ?
E quem diria dizer que te deixaria sozinha,
Naquele tarde azulada onde infinito era tudo que existia ?
E você me possuia dentro daquela piscina.

Aceitar seu sorriso dentro de mim.
Perceber que nenhum caminho chega ao sim,
Sem percorrer mil estradas dizendo - Fim -
Deixa desfazer esse sonho ruim.

Que o sol com certeza volta,
Que a noite chega e a gente acorda.
Quero de volta o infinito de tua boca.
Quero sentir que me toma de volta.