sexta-feira, novembro 24, 2006

Canção grega

Arrebatada.
com que direito
me arrasta, me vicia em você ?
Não sei quem és,

fauno insano, com teu amor grego
a me consumir, a me redimir.
Que ousadia é esta
querer tornar mulher esta menina ?

Teu sorriso satírico
me seduz, menino
e me perco

em tua carne pagã, enlouqueço.
Sem saber, neste frenesi
quem sou e me esqueço
em ti.

Sinto teu amor, menino
e me assusta
teu olhar masculino

A me violar.
A me encantar.

Fauno louco, pra que me amar
não sabe que se tua,
devo te devorar ?

Deito em teus braços, menino
e busco uma paz
que aqui dentro não tenho.

E te ter é o melhor dos sonhos...
mas te perder
é a certeza que alimento,

Por talvez, ao chorar sozinha,
não saber te amar.

Oceano

Nada restou de nossa sombra
a caminhar na areia da praia.
Aqui estou, temeroso das ondas
de um mar que não se quer calmo,

que carrega meu coração
pra longe de margem tão segura,
onde me acostumei com o chão,
de tua meiga ternura.

SInto o vento frio cortar
minha pele, antes aquecida.
Tento controlar os tremores

que me fazem amar,
desejar, soçobrar neste vasto,
imenso, profundo e belo oceano.

Pequenas indagações

Olhando os mendigos dormindo na madrugada fria, não sinto inveja de suas miseráveis loucuras, por saber que dentro de mim, ela arranha, quer rasgar minha vida.

Não há existência vã ?

tento acreditar, realizar, aceitar que não. Mas é tênue a teia desta vida que quero minha, viver se torna fragilidade. Medo talvez. Onde existem certezas que não me deixam sufocar diante da insana, falsa promessa de um porvir melhor. Calmo.

Paz ?

só encontro na tensão do viver. A morte. As fugas, pra onde seguir, como escapar deste caminho tão incerto ?

O gosto do tabaco e de um beijo perdido em minha boca me acalentam febrilmente, carrego em minha carne a profissão de fé que se ergue como uma sombra no deserto.

Sozinho, com Deus apenas. E é tudo o que me sustenta, me afasta da miserável loucura das ruas.

Febre

Não existe palavra vã,
quando nas noites
de nossa febre terçã
o amor de nossa carne

trespassa, se acalma, renasce.
Buscamos em nossos abraços
o porto-seguro de nossa prece
e em alto-mar vivemos saudosos

da distante casa que perdemos.
Entre o cá e o lá, balouçamos
nossos corpos num desejo

fremente. E no florir de seu sorriso,
me encontro inteiro.
Seu.