quarta-feira, julho 07, 2010

Algumas idéias sobre Coogan's Bluff

O filme que marca a transição de Eastwood do cowboy solitário para a cidade grande, é também o primeiro filme com o diretor Don Siegel, que viria a tornar-se a segunda e talvez a principal influência no futuro de Eastwood no modo de lidar com a produção e direção de filmes (a primeira influência é Sérgio Leone). Juntos, fizeram dois dos mais memoráveis filmes do cânone eastwoodiano: Dirty Harry e Escape From Alcatraz.

Siegel começou a trabalhar na Warner em 1934, onde tornou-se responsável pelo departamento de montagens do estúdio (a montagem da abertura do filme Casablanca é dele), mais tarde, torna-se diretor, entre seus filmes, o Invasores de Corpos original, Hell is for Heroes com o iniciante Steve McQueen e com Lee Marvin em The Killers, como se não bastasse, dirigiu ninguém menos do que Elvis Presley no filme Flaming Star. Sua marca registrada era o fato de trabalhar dentro do orçamento (muitas vezes pequeno) e filmar de forma rápida e prática. A falta de um diretor aceitável, os vários roteiros insatisfatórios e um prazo curto para as filmagens, levaram Siegel ao set de Coogan's Bluff. E assim, a uma das parcerias mais importantes do cinema teve início.

O plot do filme é simples, um policial do Arizona (não é o Texas!) vai a Nova Iorque fazer a transferência de um preso para ser julgado no Arizona. Não podendo fazer a transferência de imediato, afinal o preso está em uma prisão-hospital recuperando-se de uma viagem de LSD, Coogan é obrigado a conviver com a cidade grande e esperar a liberação do bandido. Mas como Coogan acha que pode resolver as coisas a seu modo, termina por dar um blefe (daí o título do filme...mas pode ser também por conta da luta final, que ocorre em um parque em NY chamado Coogan's Bluff (ribanceira)). Mas as coisas saem do controle e ele vai ter que caçar o sujeito na urbana e decadente Nova Iorque.

Coogan, com seu jeito hora Wyatt Earp, hora Buffalo Bill, termina por ser a antítese mesma da cidade: as passagens dele interagindo com a fauna nova-iorquina apresenta cenas do mais absoluto politicamento incorreto. Feito em 1968 o filme vai totalmento contra o zeitgeist do momento. E a história é explícita neste ponto, afinal uma trama onde o herói é um hillbilly e os vilões estejam envolvidos com a sub-cultura hippie da época não tem como deixar mais claro de que lado o herói está.. (há uma cena de Coogan anda em meio a uma festa na boate "The Pigeon-Toed Orange Peel" cercado por hippies, gays e drogados, com projeções passando ao fundo cenas de fimes à la Warhol, (inclusive uma curiosa projeção de uma tarântula gigante, cena tirada de filme B que Eastwood fez nos anos 50), esta momento no filme é um dos mais ousadas defesas do indíviduo contra a massa left-wing já feita no cinema)... Mas também temos os conflitos com outros temas: a burocracia, que impede a rápida transferência do prisioneiro, o psicologismo que tenta compartimentar o Homem (é hilária a conversa de entre Coogan com uma psicóloga do departamento, que tenta analisar o comportamento dele, em um momento chamando-o de enigmático para o que ele responde"enig-what?", etc.

Howard Hughes, crítico de cinema e autor de Aim For The Heart - The Movies of C. Eatwood, também aponta que no tratamento aos criminosos é possível ver os primeiros indícios de Dirty Harry e há trechos do diálogo que irão ecoar depois na voz do detetive de São Francisco . Em uma cena, Coogan ameaça um hippie (Albert Popwell) que aponta um canivete para ele com a frase "Mister Wonderful whatever-your-name-is. You better drop that blade, or you won't believe what happens next - even while it's happening", curiosamente, Albert Popwell é o assaltante do início de Dirty Harry, o "punk" com sorte. Outra frase que remete diretamente a Harry é quando, ainda no Arizona, seu superior diz para ele que, continuando a agir como um "lonesome boy" ele irá ter que fazer "every lousy one-man job that comes along".

Com cenas de ação, ironia e um Eastwood ávido em observar e aprender com Siegel, Coogan's Bluff contém elementos que tornar-se-ão marca registrada da parceria Siegel/Eastwood. Uma boa trama, uma direção contida e prática, não perdendo tempo com psicologismos e discursos vazios. É simples, direto e funciona. Futuramente, obras-primas nasceriam desse método.

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