Agora, duas e meia da madruga de quinta-feira, dia 05 de Novembro de 2008, a América já decidiu seu destino.
Barack Hussein Obama, até então um desconhecido senador americano, foi eleito presidente dos Estados Unidos da América.
Vitorioso nas prévias democratas, deixando um gosto amargo de derrota na boca do clã Clinton (piadas sexistas são bem vindas!), Obama entrou na briga com McCain, um republicano com tendências independentes (que, segundo alguns analistas, desagradou boa parte do eleitorado conservador) e levou a melhor.
Obama será o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, uma vitória da Democracia americana, onde, mais uma vez, ficou provado que qualquer um, tendo determinação e vontade, pode atingir seus objetivos.
Mas é preciso dizer algumas coisas.
Barack Obama teve uma das mais poderosas máquinas de propaganda já articuladas: a imprensa americana como um todo (tirando os sites conservadores e programas de rádio da mesma linha), se absteve de analisar ou divulgar notícias comprometedoras à Obama (mesmo à época das prévias democratas), agindo de forma enviesada em toda a campanha. Para isto, basta ver a quantidade de informações positivas ao candidato democrata e do outro lado, um massacre pessoal e político de McCain/Palin.
A questão racial: foi usada de forma agressiva, coisa que escapou aos analistas brasileiros de plantão. Em geral, qualquer nota, crítica ou análise negativa de Obama era considerada, antes de mais nada, racista, deixando em segundo plano os fatos comprometedores da vida e discurso do candidato.
Ataques pessoais aos candidatos republicanos: principalmente após a nomeação da vice-candidata, Sarah Palin, a imprensa, o beatiful people, etc. passaram a escarafunchar e atacar todos os aspectos da vida dos candidatos republicanos. Família, governo, falta de preparo, tudo foi minuciosamente escancarado, discutido ou ridicularizado. Já em relação à Obama, o que se viu foi uma discrição imensa e em dados momentos até o silenciar das máquinas.
A herança Bush: diferente do que se diz por aí, o principal fator Bush que enfraqueceu a candidatura republicana não foi sua baixa popularidade, a guerra no Iraque ou a crise econômica. O fato é, Bush, após o 11 de Setembro, tentou manter uma política bi-partidária, tendo dado espaço aos democratas, ou agindo de acordo com propostas democratas (um exemplo é o No Child Left Behind, outro a criação do departamento de Homeland Security). No campo de gastos federais, ao contrário de toda tradição republicana, Bush estendeu o Medicare, aumentando os gastos do governo. Isso tudo se chama: Big Government Republicanism, algo como dar um tiro no pé.
Mesmo com todas essas ações "democratas", Bush sempre foi atacado pelos membros do partido opositor e pela imprensa liberal. No fim das contas, o bi-partidarismo bushiano, só serviu a um partido, o democrata.
Por fim, McCain e suas posições "independentes" em relação ao partido Republicano: vinte anos de posições independentes em relação ao partido romperam a confiança dos conservadorer, muitos declararam abertamente que não apoiavam o candidato devido a história pregressa do senador. A escolha de Sarah Palin foi uma tentativa de atrair estes eleitores, mas como a candidata não era do círculo de Washington, muitos políticos torceram o nariz para uma conservadora roots, pouco preocupando-se em apoia-lá em momentos cruciais.
E o que esperar agora?
Depois de toda a campanha, de todas as promessas do novo Messias, de toda a retórica populista, Obama agora vai encarar a realidade do poder, as dificuldades de manter a hegemonia americana, a crise econômica mundial, o terrorismo islâmico, Israel, etc. Ele tem dois caminhos: manter uma posição moderada e dentre em breve ser o mais criticado presidente americano (aguardemos o New York Times), ou irá convulsionar o país e transformá-lo em um novo experimento sociológico. De qualquer forma estou certo de que a América, como qualquer outro país, tem inúmeros defeitos, mas diferente de outros países, possui qualidades únicas que serão postas à prova no mandato de Obama.
Eu aposto na América.
p.s. Boa sorte presidente Obama, o mundo precisa de uma América forte.
p.s.2 Sorte é um dos elementos essenciais para o julgamento moral das ações humanas. Perguntem ao João Pereira Coutinho.
4 comentários:
Opinião pessoal: o texto mais contundente que já li neste blog.
Acompanhei a corrida presidencial norte-americana exclusivamente por este blog. Naturalmente que assiste aos jornais da Rede Globo, mas a cobertura da emissora carioca me cansou rápido. O viés democrata estava muito acima do que o razoável permite.
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Por algum motivo acreditei que Rudolph Giuliani pudesse ser o candidato republicano.Desistiu. Depois surge McCain. Um herói de guerra que foi viril até agora. Perdeu. Mas perdeu, como você mesmo frisou no texto, em conseqüência de uma máquina publicitária pró-Obama sem paralelo nas eleições norte-americanas.
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Obama venceu. Também desejo sorte.
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E uma última coisa Dionisius: sua cobertura superou a da grande imprensa. Você trouxe os nomes certos, leia-se Sarah Palin, você estava por dentro de tudo que acontecia como se estivesse cobrindo a campanha de dentro de um think tank no coração do Império.
Pela seriedade do trabalho, meus parabéns. Muito obrigado. E em 2012 estaremos por aqui.
Carlos Eduardo,
muito obrigado pelas palavras, encorajadoras para este humilde blog.
Mas não espere até 2012, prometo acompanhar a presidência Obama atentamente e trazer o que os jornais da globo por aí não trazem: notícias reais.
Um grande abraço,
Dionisius
De fato, Dio, as tarefas e desafios de Obama não são pequenos, não são simples. A onda de otimismo que tomou os EUA (ou a parte "democrata" dele) e também muitos cantos e recantos do mundo pode facilmente ser transformada em desilusão, frustração ou mesmo ódio.
Desde a madrugada da quinta-feira, tenho pensado bastante na famosa contraposição entre a Ética da Convicção e a Ética da Responsabilidade. Quando chega ao poder, qualquer político, por mais "bem intencionado" que possa ser, por maior que seja seu apoio, é obrigado a se confrontar com a dura realidade de, muitas vezes, ter de aplicar medidas amargas, impopulares e até diametralmente opostas a tudo aquilo em que acredita.
Também receio que Obama fique preso entre a postura moderada, que pode render críticas ácidas por partes de todos aqueles que crêem que ele seja uma espécie de "salvador", e a experimentação política, que pode levar, como você muito bem apontou, à convulsão social. Pessoalmente, acredito que ele vá pela via moderada e... aí já conhecemos a história. (Ela tem o gosto amargo de Lula-lá-em-2002: quem o via como salvador da pátria frustrou-se a ponto de fechar os olhos para todo e qualquer avanço trazido por suas administrações.)
Fui até pesquisar: tinha me esquecido do nome do marqueteiro de Clinton (trata-se de James Carville) que cunhou a contundente frase "É a economia, estúpido!". Porque, pra mim, mais uma vez quem decidiu a eleição foi a economia. Se a crise financeira não tivesse estourado agora, será que Obama teria vencido? Temos que reconhecer: as pessoas tendem a pensar primeiro com o bolso, segundo com o baixo-ventre (como diriam os antigos) e, por último, com... ah, sim!, a cabeça.
Também desejo boa sorte a Obama -- acho que ele vai mesmo precisar. Mas ao contrário de você, não acho que o mundo precise de uma América forte. Talvez a América é que precise de um mundo mais forte -- mas isso, políticas unilaterais e isolacionistas como as de Bush jamais permitem acontecer.
Meu caro Ronoc,
concordo com praticamente tudo o que o sr. disse. Apenas deixo um ponto de discordância:
A América forte representa sim, um mundo mais forte, um mundo onde as democracias liberais podem ter um exemplo, ter um farol.
Mesmo com todos os problemas que os EUA possuem, ainda prefiro eles ao sistema chinês, coreano ou alguma teocracia islâmica. E a Europa, infelizmente, quando esteve forte, iniciou duas guerras mundiais.
Obrigado pela visita, volte sempre!!!
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