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Blood & Rage - A Cultural History of Terrorism
Blood & Rage, livro de Michael Burleigh, lançado em meados de 2008 recebeu críticas de todos os lados: de ser um livro que não trazia nada de novo para o debate sobre o terrorismo, de faltar referências (footnotes) para citações ou eventos apontados pelo autor, de ignorar os aspectos políticos que permeiam os atos terroristas, até de ceder à repetição e a banalidade diante da fama e notoriedade construídas com trabalhos anteriores e supostamente mais "acadêmicos" e, last but not least, de ser permeado de vociferações típicas dos comentaristas rightwings.
Ao iniciar o volumoso livro, dividido em oito capítulos que cobrem principalmente as ações terroristas na Europa e nos EUA, desde os fenianos da Irlanda no século 19, passando pelos niilistas russos, na Alemanha da década de 60 até chegar ao principal alvo de Burleigh, o terrorismo Islâmico, nota-se que as críticas tem fundamento, e isso me surpreendeu, principalmente após ler os outros livros de Burleigh, que até então eram um exemplo de rigor com insights pessoais. Então, quais os motivos de Burleigh para que nesse livro ocorram essas "falhas"?
Partindo desta pergunta, percebe-se que existe uma força hibrída, uma mente lutando para ser detalhista, seletiva e correta, com outra, desesperada para
alertar seus pares de que o terrorismo deve parar de ser aceito, justificado, ignorado enquanto não atinge nossas próprias instituições ou cidadões.
E essa crítica ao malemolente olhar de grande parte da mídia, de governos, de intelectuais e historiadores para com o terrorismo, fato que Burleigh mostra, é constante e tem como exemplo principal a forma como o governo americano fez vistas grossas aos imigrantes irlandeses que no século 19 enviavam dinheiro e faziam campanha apoiando os terroristas fenianos que atacavam a coroa inglesa, que de forma mais atualizada podem ser personificadas nas besteiras anti-americans que um Noah Chomsky escreve justificando o islâmico. Eis o cerne central do livro, suas falhas não surgem de um descuido, da falta de critérios motivados por auto-idulgência, mas sim de um profundo desespero.
E o desespero nasce no coração do Homem, não do historiador. Estamos diante do primeiro livro não-acadêmico de Burleigh, que em entrevista ao jornal The Guardian, explica sua corajosa saída da academia (ele deu aula por mais de duas décadas em Oxford) por não aceitar tornar-se um "criador de clones que preencheriam o aparato institucional", portanto, ao lermos o livro, devemos ter em mente que não é o historiador, o acadêmico que nos escreve, mas o indíviduo que diante de um Ocidente acovardado, mais preocupado com "crises financeiras" do que com a perda de padrões morais ou culturais, que galhofa de si mesmo em encontros de comprades e não de estadistas, que censura seus próprios políticos que ousam erguer uma voz solitária contra o emaranhado midíatico do terror islâmico, esse indíviduo encontra-se a pregar contra os bárbaros, sozinho, mas diferente daqueles que nunca chegaram, esses novos bárbaros já estão entre nós, e se um dia acordarmos desse estupor coletivo, talvez encontremo-nos diante de uma vida cheia de sangue e fúria.
Permito-me recomendar o livro de Burleigh para os leitores, não tanto por seus acertos, ou querendo justificar seus erros, mas para que lendo Blood & Rage, tenhamos uma melhor compreensão do que é ser testemunha do horror, do que é o desespero no coração de um Homem.
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