...ou ainda, "Once upon a time in the Revolution".
Pela variedade de títulos dados ao filme, já podemos antever a confusão que envolveu a produção deste que talvez seja o mais profundo filme de Leone.
Ambientada na Revolução Mexicana, "Duck, you sucker!" conta a história de amizade entre Juan Miranda (Rod Steiger) e John Mallory (James Coburn). Dois personagens que irão crescer ao longo da trama e dos acontecimentos da Revolução.
Mas antes, alguns detalhes sobre a produção do filme:
Em primeiro lugar a direção do filme não era inicialmente de Leone. O primeiro nome escolhido foi de Peter Bogdanovich, que abandona o set por razões diversas. Uma delas indica que Leone, apesar de não dirigir o filme, fazia-se presente, e em uma discussão com Bogdanovich, insiste para este que há necessidade de close-ups (marca característica de Leone), Bogdanovich termina a conversa dizendo simplesmente que não gosta da técnica. Outro nome cotado foi o de Sam Peckinpah. Ao final, Giancarlo Santi, que era assistente de direção de Leone, assume o comando, mas logo Coburn e Steiger convencem Sérgio de que ele devia dirigir o filme afinal.
A escolha dos atores também não foi fácil, variando de Jason Robards a Clint Eastwood, o papel de John Mallory terminou com James Coburn (que no ano anterior havia interpretado soberbamente Pat Garrett no filme de Sam Peckinpah - Pat Garret & Billy, the Kid). Para o personagem de Juan Miranda, a escolha inical era de Eli Wallach (Tuco, de The Good, the Bad...), mas com a recusa deste e a pressão do estúdio por um ator mais conhecido, o papel termina nas mãos de Rod Steiger.
Mas o grande problema do filme são acontecem na montagem. Esta termina por cortar várias cenas que eram, ou muito violentas e profanas ou abordavam questões políticas que eram sensíveis à época, o que foi (e é uma pena),. O filme ainda teve exibições com cópias ruins, com lapsos de roteiro gritantes (dois desses lapsos permanecem mesmo na edição restaurada. Existem fotos que mostram as cenas, mas não foi possível a recuperação delas).
Ainda houve uma confusão dos diabos por conta da escolha do títulos, que variou nos EUA de "Duck, you sucker!" a "A Fistfull of Dynamite", o título mais apropriado "Once Upon A Time in the Revolution" foi usado na França.
Voltando à trama:
"Revolution is not a dinner party, nor an essay, nor a painting, nor a piece of embroidery; it cannot be advanced softly, gradually, carefully, considerately, respectfully, politely, plainly, and modestly. A revolution is an insurrection, an act of violence..." Mao Zedong
A história começa apresentando o personagem de Steiger, Juan Miranda, um bandido mexicano que com sua família de pequenos bandidos (é entre o hilário e o assustador que vemos crianças agindo de forma violenta e carregando armas, de forma realista aqui, não com aspecto de paródia como em "Kick-Ass")...mas a família de Miranda, apesar do anarquismo e violência, é a representação máxima da importância do núcleo familiar, dos laços de sangue e de amizade.
Ao final de um assalto, Miranda e sua família ouvem explosões e terminam por encontrar John Mallory, um especialista em explosivos e fugitivo da coroa Britânica por ser ativista do IRA.
Juan e John, ou Johnny & Johnny, formam uma camaradagem entre o cômico e o cínico, um tripudiando do outro e trocando farpas recíprocas, mas durante a trama, ou durante os fatos da Revolução esta amizada irá se aprofundar, e criar laços mais fortes do que uma simples camaradagem.
Logo descobrimos que Mallory está unido com os revolucionários que planejam a destituição de Porfírio Dias, mas suas conversas com Miranda vão mostrando para ele que a realidade e as consequências de uma revolução é outra, não aquela idealizada pelos revolucionários.
Em uma cena onde Mallory discute os ideais da revolução, é Miranda que diz a verdade: "Uma revolução nada mais é que pessoas que sabem ler, dizem as que não sabem, que as coisas tem que mudar! E no final, as pessoas que sabem ler, continuam comendo e bebendo em suas mesas e as que não sabem ler, os pobres, sabe o que acontece com eles? Estão todos mortos!" Afetado por estas palavras, Mallory joga na lama um livro que está lendo "O Espírito Nacionalista" de Michael Bakunin. É uma das cenas mais importantes do filme, onde o "intelectual revolucionário" se dá conta, através do "homem comum", de um "pai de família", que "ideas have consequences".
Mas os acontecimentos da revolução vão engolindo os dois personagens: traições, assassinatos em massa (de ambos os lados do conflito) e tragédias pessoais, vão tornando o filme, inicialmente bem humorado e leve, em sombrio e melancólico. Dos filmes de Leone, este talvez seja aquele que vai mais profundamente na construção trágica dos personagens. É um filme onde, diferente dos outros, as ações trazem consequências, e pessoas e famílias morrem por conta dessas ações.
Outro aspecto importante é que, apesar de Leone afirmar que não era um filme político, não tem como não perceber sua intenção em derribar o "Mito da Revolução", mostrando que nada de bom pode acontecer em uma revolução, não há redenção, não há heróis, nada resta de sagrado ou familiar. Há apenas, uma violência, por vezes descontrolada, por vezes mecanizada e assustadoramente repetitiva.
Ao terminar o filme, com estupor, percebemos que o que importa nesta vida pode ser resumido em três coisas: amizades, família e religião. E que ao perdermos tudo isso, só nos resta perguntar "Que farei agora?"
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A edição que assisti é a edição restaurada de em 157 minutos que a MGM lançou em DVD em 2007.
Esta edição trás cenas inéditas que foram inseridas na trama, entre elas, uma espetacular sequência de assassinatos em massa que ecoa toda a tragédia dos genocídios do Séc. XX.
Infelizmente duas cenas cruciais para a trama não foram encontradas...uma que mostrava o personagem de Coburn sendo torturado por um dos filhos de Miranda (ele é obrigado a andar pelo deserto, como Tuco faz com Blondie em "The Good, the Bad...) e outra, talvez a mais importante, onde um dos cabeças dos revolucionários, Doutor Villega, é torturado e entrega seus amigos, causando mortes que irão afetar os personagens profundamente.
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Sobre as consequências e tragédias provocadas pelas revoluções, recomendo assisitir a três outros filmes: "Marie Antoniette" de Sofia Coppola, "A inglesa e o duque" de Eric Rohmer, e não sendo uma revolução, mas uma guerra civil, não há melhor paralelo para "Suck, you duck!" do que o filme "Shenandoah" de 1965, filme de Andrew McLaglen, com James Stewart no papel de um chefe de uma família no estado da Virgínia que é engolida pela "Guerra entre os Estados". Mas aqui, ao contrário do filme de Leone, há esperança ao final.
Um comentário:
Muito bom. Sou muito fã de Sérgio Leone, e realmente, esse filme é um dos mais críticos dele.
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