segunda-feira, novembro 28, 2005

O olhar

E as pessoas andam pelas ruas
como cavalos em uma exposição,
como porcos prontos para procriar...

e o sol reflete-se nos vidros dos carros...

Cavam a própria sepultura
são devorados por vermes
que habitam o próprio corpo...

A cidade,
cemitério de vivos.
Invólucros de carne e ossos...

Ouço vozes gravadas,
sedutoras como pelo de rato.

Por baixo de suas fachadas,
esgoto e podridão,
penetram e corroem o que resta...

Felizes dos mortos,
que habitam o Jardim dos Anjos.

Felizes dos mortos,
que queimam em chamas e vômito no Hades.

A lua devora o sol !

O asfalto queima sob meus pés,
suor escorre por meu corpo.

Observo a curiosa exposição,
que habita a minha volta.

Faces de cera
e carvão.
máscaras.

Eu sorria,
e os raios do sol,
brilhavam em uma faca.

Sangue, sígno de Deus,
sangue.

E ervas crescem, em meio a cruzes de concreto.

Havia um hotel na esquina,
demolido.
Vive agora em sombras.

Furo meu globo ocular.
POP
ele estala.
e molha meu rosto.

Crianças brincam em um parque,
famintas, cadáveres pequenos e ossudos.

Uma bandeira queima ao longe,
soltando fumaça, gritos, piedade
fúria e ódio.

Uma sinfonia de entranhas.

Olho o sangue em minhas mãos.
Olho o corpo em meus braços.
meu corpo, teu corpo, nossos corpos.

tento chorar,
mas as lágrimas me sufocam,
apertam minha garganta.

então, delírio.

sou observado, observo.





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