segunda-feira, janeiro 19, 2009

Benjamin Button e a celebração da vida.


O Curioso Caso de Benjamin Button, novo filme de David Fincher e o terceiro com Brad Pitt é uma celebração da vida madura. Uma celebração do inevitável, uma celebração do tempo que marca nosso rosto à cada dia com rugas de sabedoria e perdas, defeitos e cicatrizes que se acumulam em nossa trajetória única.


O filme, como todos estão cansados de saber, é baseado em um conto de Scott Fitzgerald( que não irei comentar aqui, pois infelizmente não o li) e narra a vida de Benjamin Button, nascido em Nova Orleans em 1918 com a curiosa peculiaridade de com o passar dos anos, ao contrário de nós, rejuvenescer à cada dia. E através de sua curiosa vida (e de seus curiosos olhos) acompanhamos o processo de nossa trajetória rumo ao fim.


Fincher, conhecido por seus filmes transgressores e violentos (penso em Seven e Clube da Luta), consegue contar uma história delicada e singela. Principalmente quando, ao contrário do que se espera, é a velhice que é tratada com dignidade e respeito. A princípio, poderiamos supor que é a juventude que seria exaltada e glorificada. Mas não, é justamente na beleza de nosso devir e decadência que o diretor pousa seus olhos e portanto os nossos. Lembrando-nos que na maior parte de nossa juventude, essa fase hoje tão celebrada, idolatrada, que tentamos e somos tentados a prolongar com plásticas, hábitos saudáveis e até negando com o tão famigerado termo "terceira idade", nada mais somos que pretensiosos e inconsequentes crianças-adultas para quem a dor alheia é apenas um incômodo.


Sim, o tempo e a morte não poupam ninguém, e relembrar isso, e aceitar isso é algo que tememos e evitamos comentar ou mesmo lembrar. E é somente compreendendo e aceitando nossa fragilidade que iremos entender que nossas vidas, mesmo as mais simples, tem cada qual sua curiosidade, sua peculiridade. E no fim, no derradeiro fim, o que podemos esperar senão um olhar de reconhecimento e caridade para este vasto e curioso mundo.


Um pequeno p.s. : Brad Pitt está muito bem no papel de Benjamin Button, principalmente nos momentos em que o personagem está "velho"; Cate Blanchett é um caso à parte, uma das maiores atrizes de nossa época, simplesmente belíssima e encantadora, seja como uma jovem menina de 22 anos, seja como uma octagenária na cama de um hospital em seu derradeiro momento.


Um comentário:

Unknown disse...

A beleza dos protagonistas românticos desponta mas sem dúvida não é o caso da velhice em si, nem do romance entre duas estradas que correm opostamente que me atrai. O que mais me chama a atenção é a presença constante e viva da parcela contingente, do eterno enigma, daquilo que não controlamos. O filme todo cutuca neste sentido: quando ele nasce pode ser um monstro ou pode ser o milagre em "formato não esperado" . O que podemos fazer diante do que não foi apresentado oficialmente pelas ciências? Confesso que neste momento pensei muito nos abortos. Então ele cresce e milhares de vidas cruzam seus caminhos em meio a tempestades ou a navegações ( vento, o tempo, o mar, tão impalpáveis), o que reforça mais esta relação precisa de nossas vidas humanas com o que nos transcende.
Há passagens engraçadas e belas, como o velhinho atingido 7 vezes por um raio e que tira disso tudo a sorte de estar vivo ( isso me lembrou tanto o Eclesiastes...o ser pó e mesmo assim assumir corajosamente este ser). Há também uma relação muito curiosa com os números, especialmente o 5: com 5 anos ela encontra ele na infância e depois na velhice, quando ele tem 5; o furacão atingirá o grau 5; a história que os dois gostam (da raposa) bate o tempo todo na tecla das 5 horas, quando Deus dá as belas e ágeis pernas para a raposa; 5 é por onde está passando o ponteiro do relógio com rotação invertida,quando a água inunda o espaço e 5 é a soma dos algarismos que aparecem bem na penúltima cena: 617, o quarto onde ela está. É como se o 5 fosse a chave, o momento do Mistério, a hora onde Ele se apresenta e nos presenteia com mais charadas, que para cada um será de um jeito: no balé, na maternidade, na fábrica de botões...mas será...e temos, mesmo dentro deste imprevisível mundo de encontros e acontecimentos, temos a liberdade de caminhar da melhor forma ou da pior...de fazermos muito bem o papel que dá sentido a nossa vida ou deixá-lo para as trevas de um palco qualquer.
É isto!