Depois de um dia de trabalho duro, marquei um encontro que há pelo menos vinte anos tenho:
assistir a um filme de Clint Eastwood.
Hoje, o maior diretor de cinema vivo (e maior no sentido de profundidade temática, uso criterioso da linguagem e a capacidade de revelar o melhor de um ator pelo que esconde dele, eis a grandiosidade deste senhor), o mais produtivo (2 filmes por ano é sua média atual), e de longe o mais criativo (criativo aqui não no sentido de experimentalismos, mas na utilização do cinema para simplesmente contar uma história), mesmo depois de obras-primas como Os Imperdoáveis, Bird e Sobre Meninos e Lobos, consegue se superar.
The Changeling, com Angelina Jolie (esqueçam as critícas que leram por aí, ele consegue tirar dela a mais tocante atuação de sua carreira), está em cartaz, com toda a sutileza da vida humana que marca o trabalho de Eastwood (principalmente na sua última fase, que começa com Bird).
O filme, inicialmente, parece tratar de uma história simples (como o Menina de Ouro, que inicialmente é apenas uma história de boxe, ou A Conquista da Honra, que parece apenas mais um filme de guerra) mas no desenrolar do filme, percebemos que essa "simples" história de uma mãe em busca do filho trás em seu centro nossa relação com a verdade. Com a verdade em seu estado simbólico mais puro: a certeza de uma mãe (tema que aparece também no - A Conquista da Honra, quando uma das mães reconhece seu filho na famosa foto pelo traseiro deste.)
E esta simples verdade materna é posta à prova, é desafiada, ameçada, brutalizada e até mesmo perto do fim do filme, chega-se ao cúmulo de ser falsamente apaziguada, para ser novamente reafirmada e por fim, atingir um estado não de redenção. Mas da esperança da redenção.
Mais que um grande filme, Eastwood mostra, mais uma vez, que em nossas pequenas escolhas, que em nossos momentos mais solitários pode-se ganhar tudo ou perder tudo. Mas que as escolhas são nossas e preservar a verdade por nossos atos é algo que nada, nem o Estado, nem seus médicos, nem sua policia, nem nossos supostos redentores (fina ironia, uma redenção falsa nas mãos de um serial-killer) pode ou tem o direito de fazer por nós. E que no final, se temos esperança, dor, perda, eis ai a nossa dor, a nossa esperança e a nossa perda.
"Go To Hell And The Horse You Rode In On"
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