segunda-feira, janeiro 04, 2010

Nikolai Getman











"I dedicate my collection to the
memory of those who survived the Gulag and to those who did not. Light a candle in memory. The living are in need of it more than the dead. Bow your heads."

Com essas pungentes palavras, Nikolai Getman encerra seu ensaio que está no livro "The Gulag Collection: Paintings of the Soviet Penal System", publicado pela Jamestown Foundation quando de uma exposição em sua homenagem.

Nikolai Getman, que nasceu na Ucrânia em 1917, era um estudante de artes plásticas, lutou na segunda guerra e terminou sendo uma das milhares de vítimas do regime comunista.

Preso em 1947, passou quase oito anos preso em gulags na
Siberia e em Kolyma. Nesse tempo, presenciou a morte, o desespero, humilhação, mas (ah, paradoxos!) também a dignidade do espírito humano, que mesmo sob o horror, persevera, sobrevive. Segundo Getman, essa dignidade, essa força, é que garantia a vitória do Bem contra o Mal.

A série de 50 pinturas, feitas após sua libertação e em absoluto segredo (havia o risco de, caso descoberto, ser preso novamente ou até condenado à pena de morte) são não só um testemunho único de como o sistema punia seus dissidentes, mas também uma prova da força e coragem necessárias para transformar o horror em redenção.

O mais tocante da obra de Getman é que os quadros foram pintados após sua saída do gulag (parece óbvio, mas é bom deixar isso claro). Portanto, eles são fruto de um intenso reviver, de uma força interior grandiosa, que por anos o levou a trabalhar em suas pinturas. Lembranças doloridas, passadas, mas vivas na Eternidade; "recordações da casa dos mortos".

Na página artukraine vocês encontram os textos publicados no catálogo acima mencionado, com comentários de algumas pinturas.

As pinturas que estão aqui postadas são - Eternal Memory in the Permafrost e Punishment By Mosquitoes (um dos quadros mais impressionantes que já vi. Remembranças de "O Grito", de Munch). A representação do desespero e abandono do homem machuca, fere. "Elói, Elói, lammá sabactáni?", parece gritar o corpo torturado.

Nikolai Getman morreu em 2004, aos 86 anos de idade. Que este pequeno post seja uma vela acesa em sua memória.

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